Estava com esta música na cabeça quando entrei para o duche. Não é que tenha um grande hábito de cantar no acto de tomar banho, mas por vezes acontece - tenho mais a tendência estranha para me lembrar de situações antigas, conversas ou ideias parvas para escrever. Tenho associações de ideias, a bem dizer. Talvez seja da água quente, talvez seja dos vapores... mas quando fechei os olhos para tirar o maldito shampoo da cabeça - fazem espuma para caraças, nos dias de hoje - dei por mim sentada no muro de um canteiro ao pé do refeitório da escola secundária. Ao meu lado, um rapazito que tinha conhecido há tão poucos dias, perguntava-me porque é que ficávamos com os membros dormentes. Pensei naquilo, sentindo-me um bocado intimidada - aos 15 anos, ainda estava naquela fase em que qualquer pergunta me fazia sentir culpada e em que tinha um medo horrível de dar respostas estúpidas. Respondi-lhe que achava que isto acontecia quando o sangue não circulava bem, no sítio em questão. "Isto deve deixá-lo contente!" - pensei. Mas não! Perguntou-me como é que passava o efeito. E a única coise que me veio à cabeça foi responder o que a minha mãe costuma dizer-me: "Mexe-te que isso passa!" - que posso dizer? ela parece licenciada em sarcasmo; sai-lhe naturalmente... Sem problemas, o moço desata a agitar a mão com toda a força, agradecendo-me com o ar mais sincero deste mundo. Achei piada àquilo e sei que me ficará para sempre marcado na memória, tal como aquela excelente frase: "Não trouxeste essa t-shirt de manhã, pois não? Porque se tivesses trazido, tinha reparado em ti! É que eu, para os amarelos...". Sei bem que amanhã a minha cabeça vai estar a prémio - vocês odeiam quando começo a contar coisas destas no blog - mas afinal para que é que servem os amigos? No final de todas as contas, acaba por ser graças a vocês que nunca me vou sentir confortavelmente dormente.