Seres de Plástico
No outro dia fui ao hipermercado - sabem, aquelas coisas que fazemos de vez em quando... - e como criancinha que parcialmente ainda sou e espero bem continuar a ser, passei pela secção infantil. Gosto muito de fazer isso: gosto muito de olhar para os carrinhos e os puzzles e os Lego e aqueles bonecos para os meninos que são todos, basicamente, feios que nem cornos; e depois gosto de tocar nos pianos dos bebés, pôr as coisas a tocar, e olhar para as Barbies. As Barbies! Sou só eu ou elas transformaram-se numa nulidade? É que quando era miúda elas ainda tinham uma profissão. Eram dubiamente constituídas, com umas pernas grandes de mais para o tronco, uma cintura de quem não tem costelas e uma prateleira que as faria ficar corcundas aos 35. Mas sempre tinham uma profissão. Eram médicas, nadadoras-salvadoras, veterinárias, professoras, provavelmente constructoras das obras, e tinham um amigo Ken a quem tinham feito uma vasectomia altamente complicada. Agora só vejo sereias e princesas e todas aquelas coisas que as miúdas nunca poderão ser. Enfim, talvez seja alguma nova mentalidade que não compreendo, talvez esteja a ficar velha. Acredito sinceramente que não há gerações rasca, e que em todas elas se encontram jovens de valor. Mas sempre gostava que as Barbies voltassem a ser o que eram: bonecas com emprego, daquelas que não precisam de casar com um Ken mais velho para lhe sacarem a fortuna depois de morto. Tenho dito. Assim é que devia ser.