Como esta semana é a chamada Semana Negra (pelo menos é o nome que lhe dão naquela loja cujo nome começa por F, acaba em C e tem a palavra NA no meio) aqui fica um poema mais ou menos obscuro e altamente deprimente. É do nosso bom Bocage, aquele poeta autenticamente boémio que inspirado pela revolução Francesa, morreu aos 40 anos depois de uma viagem à Índia e de ter corrido todos os bares (ou botequins, como se diziam na altura) de Lisboa. Ou não fosse ele um verdadeiro filho da Margem Sul do Tejo...
Oh retrato da Morte, oh Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga.
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.