O Pavão
- Que esmeraldino esplendor! Que belo meio-tufo... nem sei que lhe chamar. Que cauda! Nunca admirei uma magnificência tão extrema e delicada! Uma ave macho, está-se a ver. - Ficou a acariciar as brilhantes penas, a longa cauda - Terás alguma vez meditado sobre o sexo, meu caro? - perguntou.
- Nunca. O sexo nunca me entra na cabeça.
- A carga do sexo, quero eu dizer. Esta ave, por exemplo, está fortemente carregada; direi mesmo sobrecarregada. Dificilmente poderá voar ou fazer as suas voltas diárias com o fito do prazer, embaraçado por este metro de cauda e toda esta superestrutura. Todos estes atavios têm uma única função: convencer a fêmea a ceder às suas importunidades. Como o pobre galo deve ficar em brasa se estas cores são, como presumo que sejam, um índice de ardor.
- Ora aí está um solene pensamento.
- Contudo, se ele fosse um capão, a sua vida seria muito mais fácil...
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