Ela exibia-se. A pureza da graciosidade bravia fora-se, e a noção de que doravante teria de associar a vulgaridade à sua lembrança era tão dolorosa que por momentos não foi capaz de pensar com clareza. Não era que fosse de modo algum evidente para quem quer que não a conhecesse tão bem, ou que atribuísse menos valor àquela pureza, nem que tirasse alguma admiração dos homens da assistência ou dos seus companheiros, uma vez que era feito com uma arte instintiva; porém, a mulher que estava naquele camarote não era pessoa à qual ele houvesse ligado a menor importância, quando quer que fosse.
Ela não estava à vontade. Sentia a intensidade do seu olhar e de quando em quando relanceava a vista pela sala; de cada vez que o fazia, ele baixava os olhos, como se estivesse a perseguir uma corça: havia muita gente a olhar para ela da plateia e dos outros camarotes; aliás, ela era porventura a mais bela mulher presente, com o seu vestido comprido azul-celeste e os diamantes no cabelo negro, apanhado ao alto. Apesar da precaução, os seus olhares cruzaram-se por fim e ela parou de falar. Ele quis levantar-se e fazer uma vénia, mas fraquejaram-lhe as pernas. Ficou surpreendido e, antes que pudesse agarrar-se à almofada que tinha na frente para se levantar, o pano subira e as harpas executavam glissando atrás de glissando.
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