Espiral do ser - Parte II - A intemporalidade

Regresso finalmente do trabalho, sinto-me cansado mas satisfeito por ter cumprido os objectivos de mais um dia. O sol de final de tarde atinge a minha face enchendo-me de pura energia, no horizonte Lisboa começa a aparecer, estamos em 1513 pleno século XIV. Existe em mim uma sensação de desassossego que se começa a desvanecer com o aproximar à cidade. Um ranger constante é sinónimo de vetustez, pois esta caravela onde navego já fez muitas milhas náuticas, ainda assim a bolina é espantosa, é como se voasse nas ondas ao lado das gaivotas e albatrozes.
Faz exactamente dois anos que El-Rei D. Manuel I se mudou do castelo de São Jorge para o palácio do Terreiro do Paço, com isso tudo mudou naquela zona, mesmo assim ainda se pode ver o povo na sua rotina diária, na compra, venda, nas trocas e trafulhices, no porto o movimento é sempre desordenado no entra e sai de mercadoria, Portugal vive um período de ouro.
Enfim, Lisboa com as suas colinas abraça-me à medida que me aproximo, e o velho castelo mantêm-se imponente no cimo, vejo a Sé misturada no meio de umas árvores e umas casitas a rodeá-la, as ruelas começam-se a desenhar, e os barulhos e os cheiros a conquistar-me, simples arte. Quando dou por mim já estou em terra, para trás ficaram cinco séculos e muitas mudanças, mas Lisboa e a sua alma continuam na mesma.